No meio da folia de Carnaval, o Brasil viveu um momento histórico digno de Copa do Mundo: a conquista do seu primeiro Oscar. O feito de Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, não só celebrou a força do cinema nacional, mas também levantou uma nova questão: além do futebol e do Carnaval, somos agora o país do cinema?
Desde sua estreia em Veneza, o longa percorreu uma jornada intensa, com sete anos de produção e uma maratona de festivais internacionais. Premiado em eventos de prestígio, como o Globo de Ouro e o próprio Oscar, o filme não apenas encantou críticos e jurados, mas também alcançou 5 milhões de espectadores nos cinemas brasileiros.
Ainda Estou Aqui marca uma nova fase de reconhecimento do cinema nacional, ecoando a retomada iniciada nos anos 1990, quando Walter Salles já havia levado Central do Brasil ao topo do prestígio internacional. Mas desta vez, a repercussão foi ainda maior, refletindo a atual relevância do cinema como um espaço de debate social e político.
Apesar do sucesso, o Brasil ainda enfrenta desafios estruturais na produção e distribuição cinematográfica. Com 3,5 mil salas de exibição no país, o cinema nacional representou apenas 3,2% do público em 2023, apesar de corresponder a mais da metade dos filmes exibidos. O domínio hollywoodiano, os altos custos para o espectador e a falta de incentivo à produção local são obstáculos a serem superados.
A estreia de Ainda Estou Aqui no Cine Glauber Rocha, em Salvador, simboliza o papel crucial dos cinemas de rua e dos festivais na valorização do cinema brasileiro. Mas, para consolidar essa identidade cinematográfica, é preciso mais do que a euforia passageira de uma conquista. O momento é ideal para fortalecer políticas de incentivo e atrair o público para as produções nacionais.
Se o Oscar fez o Brasil vibrar como num gol decisivo, resta saber se esse orgulho será duradouro. O desafio agora é transformar essa celebração em um compromisso com o cinema nacional – para que, um dia, nos reconheçamos não apenas como o país do futebol e do Carnaval, mas também como uma potência cinematográfica.