Os anfíbios estão entre os vertebrados mais ameaçados do mundo, com 40% das espécies em risco de extinção. Além do desmatamento e da poluição, esses animais enfrentam a quitridiomicose, doença fatal causada por fungos do gênero Batrachochytrium, principal fator de declínio dessas populações.
Agora, cientistas registraram pela primeira vez no Brasil, em larga escala, a presença desse patógeno. Através de análises genéticas e testes PCR em campo, pesquisadores identificaram a espécie Batrachochytrium dendrobatidis (Bd) em diversas áreas de caatinga e floresta úmida no Ceará.
O estudo focou em anfíbios anuros, como sapos, rãs e pererecas, revelando que 71% das espécies analisadas estavam contaminadas. Foram ainda detectados casos inéditos de infecção em 11 espécies endêmicas, aumentando a preocupação com a biodiversidade local.
Algumas dessas espécies habitam florestas úmidas de altitude, como Proceratophrys ararype e Pristimantis relictus, já ameaçadas por fatores ambientais. A surpresa foi encontrar o fungo também em áreas secas, como Farias Brito e Campo Sales, contrariando estudos anteriores que apontavam maior prevalência em regiões úmidas.
Embora a maioria dos animais não apresentasse sintomas visíveis, o risco de disseminação silenciosa da doença preocupa os pesquisadores. Em um dos casos, um exemplar da espécie Boana raniceps foi identificado com sinais evidentes da infecção, sendo o primeiro registro desse tipo na caatinga.
A quitridiomicose, classificada como uma zoopandemia, afeta a pele dos anfíbios, essencial para respiração e regulação térmica. O fungo causa queratinização excessiva da epiderme, levando os animais à morte por sufocamento.
Os cientistas também destacam a influência das mudanças climáticas e do desmatamento na proliferação do fungo. Condições extremas, como secas prolongadas e aumento da temperatura, podem comprometer o sistema imunológico dos anfíbios, tornando-os mais vulneráveis.
Felipe Mendes, professor do Instituto Federal do Ceará e coautor do estudo, alerta que o fenômeno já causou extinções em massa no Panamá. “O país é quente e úmido, e espécies endêmicas foram devastadas pelo fungo”, explica.
A professora Denise Hissa, da Universidade Federal do Ceará, enfatiza a necessidade de monitoramento contínuo e estratégias de manejo. Como não há tratamento eficaz em ambientes naturais, a prioridade é evitar que o fungo se espalhe para novas áreas e estudar formas de mitigar seu impacto.