Efeitos das mudanças climáticas podem intensificar fome global, aponta estudo da ONU

O relatório mais recente sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, produzido por cinco agências das Nações Unidas, revelou que, em 2023, 2,33 bilhões de pessoas enfrentaram algum grau de insegurança alimentar, e 733 milhões passaram fome.

O documento destaca que a insegurança alimentar e a desnutrição estão se agravando devido a uma série de fatores, como a alta nos preços dos alimentos, crises econômicas, desigualdade social, dificuldades no acesso a dietas saudáveis e os impactos das mudanças climáticas.

No Brasil, o Atlas Global de Política de Doação de Alimentos indica que 61,3 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar, o que representa quase 25% da população.

Segundo Lisa Moon, diretora-executiva da The Global FoodBanking Network, a fome e a insegurança alimentar global cresceram significativamente entre 2019 e 2020, durante a pandemia de Covid-19, e, apesar das expectativas, esses números não reduziram após o fim da pandemia. “Com a guerra na Ucrânia, as mudanças climáticas e a inflação crescente, milhões de pessoas ainda lutam para ter comida suficiente”, explicou Lisa durante o seminário internacional “Sistemas Alimentares: Oportunidades para Combater a Fome e o Desperdício no Brasil”, realizado em São Paulo.

Durante o evento, que contou com a parceria do Sesc e da The Global FoodBanking Network, um dos temas discutidos foi o impacto das mudanças climáticas sobre a fome e a insegurança alimentar no mundo. Lisa destacou que as comunidades mais atingidas pelas mudanças climáticas são também as que mais sofrem com a fome. “Vemos índices mais altos de fome crônica em áreas afetadas pelas alterações climáticas. Ao mesmo tempo, o mundo produz mais alimentos do que o necessário, mas descartamos cerca de um terço do total, o que contribui para o aumento das emissões de gases do efeito estufa”, explicou.

No Brasil, Carlos Portugal Gouvêa, professor de Direito na USP e na Harvard Law School, apontou a conexão entre o desperdício de alimentos e a indústria da carne. “O Brasil é um dos maiores produtores de carne do mundo, mas também desperdiça muitos animais e produtos derivados. A pecuária é uma das maiores responsáveis pela emissão de gases poluentes, afetando diretamente o aquecimento global”, afirmou Gouvêa, ressaltando que o desperdício de alimentos está ligado ao atual sistema econômico, que incentiva uma produção excessiva.

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