As queimadas que assolam o Pantanal já causaram a morte de pelo menos três onças-pintadas, segundo o biólogo Gustavo Figueiroa, da rede Brigadas Pantaneiras. A descoberta de dois filhotes carbonizados na última segunda-feira (5) comoveu as equipes de conservação que atuam na região. Os filhotes foram encontrados em Aquidauana, Mato Grosso do Sul, e outra onça foi localizada na propriedade do Recanto Ecológico Caiman, em Miranda, a cerca de 75 quilômetros de distância.
“A onça é um predador de topo de cadeia, superimportante para o ecossistema. Quando você vê onças sendo queimadas, imagina o impacto sobre o restante da fauna, que é menos ágil,” explicou Figueiroa.
Um estudo publicado na Global Change Biology, em abril, indicou que, durante o incêndio de 2020, as onças-pintadas foram as únicas das oito espécies investigadas que não tiveram redução populacional devido à sua capacidade de migração. Contudo, o aumento na frequência e gravidade dos incêndios ameaça a distribuição e persistência dessas espécies.
Espécies como o tatu-canastra são particularmente vulneráveis, com populações reduzidas e baixa capacidade de reprodução. “Tatus-canastras buscam refúgio em tocas durante incêndios, mas os megaincêndios podem ser letais devido à alta temperatura do solo e à inalação de fumaça,” afirma o estudo.
A mudança climática e a antecipação da seca intensificaram as queimadas, superando o impacto de 2020, quando 43% do Pantanal foi consumido pelo fogo. “É um impacto gigantesco, afetando a fauna que já sofre com incêndios constantes e repetidos,” destacou Gustavo, alertando para possíveis extinções locais.
O combate ao fogo enfrenta dificuldades, especialmente em áreas de vegetação alta. Técnicas como aceiros e contrafogo são aplicadas para controlar as chamas. “Durante ondas de calor, o fogo se alastra facilmente, mesmo em áreas já controladas, o que dificulta o trabalho,” completou Figueiroa.
Impacto na Conservação
O Recanto Ecológico Caiman, onde uma das onças morreu, é uma reserva de 53 mil hectares dedicada ao ecoturismo como meio de conservação. As atividades foram suspensas até o final de setembro devido aos incêndios, que já consumiram 80% da área. A prioridade do local é a conservação da fauna e flora, conforme comunicado oficial.
Esforços de Resgate
O Grupo de Resgate Técnico Animal do Pantanal (Gretap) atua com 30 profissionais na operação de salvamento da fauna local. Os animais resgatados recebem cuidados em centros de reabilitação em Corumbá e Campo Grande. Até o último domingo (4), 564 animais silvestres foram resgatados, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
A situação alarmante no Pantanal exige esforços contínuos de combate aos incêndios e ações de conservação para preservar o rico ecossistema e suas espécies ameaçadas.