Governo percebe insatisfação de autônomos e prepara campanha para recuperar apoio popular

O governo de Lula (PT) notou um aumento da insatisfação entre autônomos e empreendedores após a crise do Pix da última semana e agora planeja uma campanha voltada a esse público.

Aliados do presidente reconhecem que o diálogo com esse segmento já era difícil e foi intensificado por notícias falsas sobre a taxação das operações via Pix.

Na última sexta-feira (17), a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) informou às agências responsáveis pela publicidade do governo sobre a criação de uma campanha de esclarecimento.

Embora o conceito da campanha ainda esteja sendo definido, a proposta é que seja focada principalmente em empreendedores, grupo mais afetado pela medida.

Esse não é o primeiro episódio em que Lula precisou desmentir informações erradas sobre a categoria. Em 2022, o presidente precisou negar rumores, amplificados por Bolsonaro (PL), de que acabaria com o MEI (microempreendedor individual). O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou a remoção de postagens com essa desinformação.

Com a crise do Pix, o governo percebeu que perdeu o debate e decidiu recuar, mas aliados temem que o dano já tenha sido feito. Alguns dizem que a medida da Receita Federal nunca deveria ter sido proposta, pois faltou um planejamento político adequado. Nem a equipe econômica parecia ciente do impacto que a mudança teria, e o tema não foi discutido com outros setores relevantes, como a Casa Civil ou o Ministério das Micro e Pequenas Empresas, liderado por Márcio França.

Outros aliados argumentam que a maneira como a medida foi divulgada também foi equivocada. Seria necessário primeiro envolver pessoas ou instituições que pudessem facilitar o diálogo com a população, como a influenciadora Nath Finanças, por exemplo.

Sidônio Palmeira, que assumiu a Secom na terça-feira, já havia solicitado à agência a criação de uma campanha para esclarecer as novas regras de monitoramento do Pix. Um dia antes de sua posse, o ministério pediu uma estratégia de combate a fake news relacionadas à taxação do sistema de pagamento.

Na noite de quinta-feira (16), após o cancelamento da medida, a Secom informou que a campanha seria suspensa e orientou as agências a aguardar novos direcionamentos.

Desde a campanha eleitoral, a comunicação com autônomos e empreendedores tem sido um desafio, especialmente com o crescente apoio a discursos alinhados ao bolsonarismo. Um exemplo foi a resistência à regulamentação dos trabalhadores de aplicativos de transporte, uma promessa de Lula, que enfrentou forte oposição do próprio segmento.

No ano passado, o governo novamente teve dificuldades de comunicação durante a campanha eleitoral de São Paulo, quando o candidato Pablo Marçal (PRTB) se destacou nas periferias com uma plataforma focada em empreendedorismo.

Durante sua visita a São Paulo, Lula anunciou o programa “Acredita”, que oferece crédito para empreendedores e famílias de baixa renda, mas a falta de um evento de lançamento fez com que a oposição questionasse a eficácia da medida.

No caso do Pix, a oposição explorou o medo de que microempreendedores fossem penalizados pela Receita. A Fazenda tentou desmentir essa versão, afirmando que a medida visava combater crimes e irregularidades, e não atingir pequenos comerciantes. Contudo, essa narrativa ganhou força, especialmente após o vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que contribuiu para a disseminação do temor.

A estratégia de oposição foi moldada por Duda Lima, marqueteiro da campanha de Bolsonaro em 2022, que orientou a oposição a focar os ataques contra os impactos nos empreendedores.

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