Mudanças climáticas ameaçam futuro dos esportes globais

O lema olímpico “mais rápido, mais alto, mais forte” poderia incluir “mais quente”. Durante os Jogos Olímpicos de Paris deste ano, atletas enfrentaram temperaturas acima de 35°C. Youssef Krou, jogador de vôlei de praia, passou mal e precisou de atendimento médico. Em outros esportes, como tênis, futebol e hóquei sobre grama, pausas para hidratação tornaram-se indispensáveis.

O impacto das altas temperaturas não é novo. Em Tóquio, nos Jogos de 2021, o tenista Daniil Medvedev interrompeu uma partida por dificuldade de respirar e chegou a declarar: “Posso terminar o jogo, mas posso morrer”. A tenista Paula Badosa sofreu uma insolação e deixou a quadra em cadeira de rodas.

Esses episódios ilustram um problema crescente: o calor extremo, impulsionado pelas mudanças climáticas, tornou-se um adversário para os atletas e ameaça o futuro de grandes eventos esportivos.

Esportes de inverno já sentem os efeitos

Os Jogos Olímpicos de Inverno, por exemplo, têm sido afetados há décadas. Pequim-2022 só foi possível com o uso de neve artificial, realidade já comum em 90% dos resorts de esqui na Itália, sede da próxima edição. Em novembro, uma etapa da Copa do Mundo de esqui no Canadá foi cancelada por falta de neve, e o Comitê Olímpico Internacional (COI) prevê que, até meados do século, apenas 10 a 12 países poderão sediar os Jogos de Inverno.

Após a escolha dos Alpes franceses para 2030, o presidente Emmanuel Macron reforçou a necessidade de um modelo sustentável. Na região, 40% das estações de esqui já dependem de neve artificial.

Além disso, estudos indicam que, se a temperatura global subir 2°C acima dos níveis pré-industriais, cerca de 53% das estações de esqui na Europa estarão em risco. Com um aumento de 4°C, 98% delas seriam inviáveis sem neve artificial.

O custo ambiental da adaptação

Produzir neve artificial requer grandes volumes de água e eletricidade, agravando as mudanças climáticas. Segundo o pesquisador Hugues François, 50% a 80% das emissões de carbono dos resorts vêm do transporte de turistas. “As viagens contribuem para um ciclo sem fim: quanto mais o clima muda, mais precisamos de neve artificial, o que agrava as mudanças climáticas”, explica.

François defende a redução de viagens e uma transformação no modelo de turismo. “Se o mundo aquecer 4°C, estaremos mais preocupados em alimentar o planeta do que em nos divertir nas montanhas”, alerta.

Adaptação ou extinção

O COI considera adotar um rodízio fixo de sedes com infraestrutura e clima adequados para os Jogos de Inverno, alternando entre Europa, América do Norte e Ásia. Para Nicola Pech, da ONG Mountain Wilderness Italia, os Jogos precisam resgatar seu espírito original: “Devemos realizar competições onde as condições naturais sejam adequadas, sem distorcer o ambiente”.

No centenário dos Jogos de Inverno, o alerta é claro: sem ação climática, o futuro dos esportes está em jogo.

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