Prestes a comemorar 51 anos, Selton Mello lançou uma autobiografia: “Eu Me Lembro” (ed. Jambô). De título felliniano, o livro tem 344 páginas e foi escrito de forma não-convencional para uma obra do gênero. Durante o auge da pandemia de coronavírus, em 2020, enquanto mexia em fotos antigas, o ator constatou que já completava 40 anos de carreira e teve a ideia de pedir a 40 pessoas que lhe enviassem perguntas para dar base ao texto.
Assim, cada capítulo parte das questões enviadas por um convidado, entre os quais Nathalia Timberg, Tonico Pereira, Zezé Motta, Lázaro Ramos, Matheus Nachtergaele e Rodrigo Santoro.
No capítulo baseado nas perguntas de Alice Wegmann, atriz da geração posterior à de Selton, ele comenta como o mal-estar com o próprio corpo se instalou definitivamente no início da adolescência. “Falavam para mim: ‘você é um baita ator, não vai engordar, hein?’ Isso é um absurdo, uma arma engatilhada para quem tem baixa autoestima. Nunca tive uma relação saudável com meu corpo”, diz um trecho.
Na sequência, o ator lembra o uso intensivo de inibidores de apetite, tema que jamais havia exposto com tantos detalhes. Passou a tomá-los em 1998, ano em que participou de dois dos mais importantes filmes de sua carreira: “Lavoura Arcaica” e “O Auto da Compadecida”.
“Durante mais de dez anos, tomei pílulas que eram anfetamina pura. Eu tomava os remédios nas vésperas dos trabalhos. Tipo: ia fazer um filme daqui a quatro meses e já começava a tomar porque sabia que ia dar resultado em quatro meses. Quando acabava o filme ou a minissérie ou o que fosse, parava de tomar e engordava tudo de novo. Ou seja, uma total falta de amor-próprio!”, escreve.
Outro tema sensível abordado no livro é o Mal de Alzheimer que acometeu sua mãe, Selva.
Sobre atuação, já no primeiro capítulo, a veterana Fernanda Montenegro pergunta como Selton Mello foi se “livrando de todo o histrionismo didático, tão comum na nossa tradição teatral”. Na resposta, ele cita o que aprendeu com Paulo José (1937-2021): “Paulo me deu a confirmação do que antes eu apenas intuía. A simplicidade no ato de atuar, a exclusão do esforço, percebendo a atuação como um lugar leve”.
Selton completa 51 anos no próximo dia 30 de dezembro.