Veículos de imprensa nos Estados Unidos têm demonstrado falta de coragem diante das ameaças de Donald Trump e seus aliados, segundo Margaret Sullivan, renomada crítica de mídia que já foi ombudsman do The New York Times e hoje escreve para o britânico The Guardian.
Sullivan aponta que a culpa não recai apenas sobre os veículos, mas também sobre os conglomerados que os controlam. Ela cita o acordo recente da ABC News — propriedade da Disney — para pagar US$ 15 milhões (R$ 93 milhões) e encerrar um processo de difamação movido por Trump, algo raro no país e que pode incentivar ações similares.
Processos de difamação contra a mídia nos EUA são difíceis de vencer, especialmente para figuras públicas, que precisam provar má-fé. Mesmo assim, Sullivan critica o que chama de “autocensura perturbadora” entre os veículos. Ela destaca como exemplo o fato de The Washington Post e Los Angeles Times terem optado por não publicar editoriais em apoio a Kamala Harris na última eleição, algo que atribui ao receio de desagradar Trump.
Outro ponto polêmico foi a decisão do Post, controlado por Jeff Bezos, de não endossar nenhum candidato, quebrando uma tradição de décadas. Sullivan também menciona o plano Projeto 2025, que visa facilitar o acesso do governo a informações sigilosas de jornalistas e reduzir verbas para a mídia pública.
Sullivan alerta que a reeleição de Trump traz um cenário mais hostil para a imprensa, com ações judiciais e ataques diretos a veículos como CBS News, cuja concessão ele sugeriu revogar. Além disso, o aliado de Trump e indicado para liderar o FBI, Kash Patel, já declarou que o governo pretende processar a mídia, seja por vias civis ou criminais.
A ex-ombudsman ainda analisa mudanças no cenário midiático, com o crescimento de influenciadores digitais, como Youtubers e colunistas de plataformas como Substack, que se tornaram fontes alternativas de informação. Ela defende, no entanto, que a solução para aproximar os jornalistas do público não é contratar profissionais sem formação, mas sim aprofundar a compreensão da sociedade americana.